Capítulo 1: Uma carta para Elize

     Querida Elize,
Entre essas quatros paredes frias que testemunham todos os dias a minha triste existência evaporar como água em cálice, e cada dia que passa resta menos de mim. Estar em uma cadeia nunca esteve em meus planos, mas a sociedade, da qual nunca fiz questão de me encaixar, não compreendeu o grande e extraordinário feito que fiz: você, minha criatura, você preenchia o vazio que os humanos normais não quiseram, me divertia ver suas reações e descobertas diante desse mundo estranho, sua carinha feia e simpática. Depois de longos dias, talvez anos, sem receber nenhuma notícia sobre você, finalmente me permitiram pelo menos escrever-lhe uma única carta. Me disseram que você  demorou muito para se adaptar,  quase não se alimentava, imagino as barbaridades que lhe fizeram, probrezinha. Sinto muito,  fizeste minha vida monótona de cientista falido mais interessante, vivemos grandes emoções, nunca as esquecerei [...]
- Emmanuel

    O mundo vivia a grande escuridão de pós-guerra mundial, foram feitas várias invenções que contribuíram para a humanidade, mas também tiveram aquelas invenções loucas e antiéticas, como o experimento do cientista e Dr. Emmanuel Robert Stubenrauch. Ele foi condenado a prisão de 120 anos por ir contra as leis da ética humana, responsável pela morte de duas mulheres (da vida) que foram suas cobaias em seus processo de experimento híbrido entre um embrião humano e um animal, só Deus sabe quantas experiências esse louco fez para alcançar o resultado esperado.
     Elize por sorte não morreu, pois ela nasceu antes do esperado, seus primeiros dias de vida foram intensos, mas ela de alguma forma, milagrosa talvez, era forte. Ela despertou no Dr. Emmanuel uma empatia que não sentia por ninguém, tanto que quando as duas mulheres morreram ele mal as enterrou, não houve nem lamento, nem arrependimento e continuou fazendo seus experimentos até conseguir o que queria. Imagino que ele não descansaria até alcançar seu objetivo, porque era obstinado em seus planos e que tentaria até o fim, não importasse quantos tivessem que morrer.
    Um dia, quando Elize tinha apenas dois anos de idade, conheceu o céu pela primeira vez, ficou admirada e passou minutos sem piscar os olhos, sua grande orelha ouvia atentamente os cantos dos pássaros e o assovio do vento. Ela tinha olhos grandes e uma cabeça redonda num formato de ovo. Ela gostava das cores azul e amarelo, embora tivesse sangue de animal não era agressiva. A pequena criatura não conseguiu falar, quando tentava falar fazia sons estranhos, mas Emmanuel procurou maneiras de ensina-la a se comunicar com ele, ensinou-lhe a língua dos sinais e, quando tinha 4 anos, ensinou as vogais e consoantes atravez de imagens. Aos 5 anos já era capaz de ler algumas coisas, curiosamente, no dia em que conseguiu ler seu primeiro texto, uma pequena fábula, ela foi tirada das mãos de seu criador. Foi a primeira vez que ela experimentou a sensação de desespero e medo extremo, parecia um porco sendo levado ao matadouro, seu coração batia forte e sua respiração ofegava. Quando ela foi descoberta e seu "pai" levado preso, todos os jornais apareceu seu rosto pequeno, essa noticia gerou uma grande repercussão e logo ficou conhecida como a aberração. Mas para Emmanuel, aquele doutor louco, ela era apenas a querida Elize. Ela era um ser curiosamente calmo, peculiar e diferente, tinha um rosto triste, mas de triste era só a aparência.
      A pequena criatura nunca imaginaria os males que a esperava pela frente - um futuro conturbado, cercado por pessoas gananciosas, afinal, um experimento híbrido que deu certo pode servir para muitos fins...

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