Bebida recusável

      Hoje o céu repousa sobre o tom mais cinza, é fim de tarde e tudo parece fúnebre. Um par de olhos cansados cavam a terra minuciosamente para encontrar um pequeno grão que renda pelo menos 10 afim de enganar a fome que se aloja nas entranhas. Os filhos olham para o homem, famintos, roupas desgastadas, pele ensolada, ainda assim se orgulham por possuírem um cálice de água.
     A soberba chega como quem vem de um desfile de guerra, trazendo o despojo desarraigado de suas debeis vitimas. Ela os seduz com um discurso malicioso de vida fácil, oferece objetos lustrosos, os enche com adornos caríssimos e os embriaga com vinhos finos de vaidade.
     - Quem ousaria recursar minha generosa proposta? - Num tom de voz maquiavélico, ela sonda aqueles olhares que mal piscam diante de sua aparência indiscutível.

     Sua fala é tão eloquente e cheia de altivez, sua diversão é enganar humanos de mente fraca que não respeitam limites e que só olham para o chão como um porco contento com sua laminha e sobras das mesas fartas e se enganando com coisas fugazes.
   Ela mima seus humaninhos-marionetes e ela espera calculosamente a hora do grã-final: o deixa se embebedar de arrogância e injustiça para assim puxar seu tapete gerando uma queda terrível e mortal.
    Enquanto isso, das nuvens surge uma coruja que desce num voo de emergência, bica desesperadamente os ouvidos e os olhos daqueles tolos, tentando acorda-los daquela mentirosa Soberba, mas ninguém desperta, ninguém fica curioso para ver o que está havendo, todos estão inerte, fixado naquela proposta maliciosa e naqueles objetos ofuscantes.
       Por um momento pensei - tudo está perdido - mas ao direcionar meus olhos para esquerda, eu vi de longe um menino, ele não estava dentro daquela ciranda e nem se interessou pela bebida que aquela intrusa oferecia, ele simplesmente estava olhando o imenso firmamento e suas nuvens cinzentas. Não sei o que ele estava procurando ou pensando, mas aquela cena me aqueceu o peito de esperança. 

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